Bendita a época em que o dinheiro deixará de ser um artifício de
deturpações, ganâncias e vaidades, resgatará a finalidade de sua criação, e
voltará a ser unicamente facilitador de trocas de valores, cujo procedimento
era feito pelo escambo (troca de bens ou serviços). Haverá um tempo em que
migrantes não sairão em busca de trabalho, pois seus lugares de origem saciarão
a demanda, o dinheiro não será o objetivo principal do labor, porquanto
estaremos mais dispostos a oferecer à sociedade aquilo que mais saibamos fazer
sem o risco de não ter com que pagar as contas de cada mês.
Deixaremos, ainda, de testemunhar o desperdício em bens
materiais supérfluos, o consumismo exacerbado, e o bloqueio que muitos sentem
por não poder comprar o básico de que precisam para subsistir dignamente. Punge
que muitos vivam abaixo da “linha de pobreza”. O dinheiro corrompe o homem ou
este faz mal uso daquele?
Há situações em que o cidadão tem que trabalhar quase
forçosamente a troco das notas que lhe trarão sustento, mas há que cuidar-se
para que a obsessão pelo dinheiro não escravize o trabalhador a ponto de que se
tenha três ou mais empregos, viva-se para a acumulação, e negligenciem-se
outros aspectos da vida, tão caros para a qualidade.
Pelo dinheiro, migrantes sujeitam-se a trabalhos árduos a fim de
que paguem, ao menos, as despesas de sobrevivência. Quando é possível, remetem
parte de seus proveitos às famílias que deixaram alhures. A partilha da riqueza
brasileira constitui um dos grandes desafios em políticas públicas um ano após
outro. Guido Mantega, ministro da Fazenda, anunciou que o Brasil terminaria
2011 como a sexta maior economia mundial com um Produto Interno Bruto (PIB) de
US$ 2,4 trilhões e que só não superaria o de Estados Unidos, China, Japão,
Alemanha e França.
Os jovens, assim, não podem crescer associando o acúmulo de
dinheiro com o sucesso profissional, como se o primeiro fosse condição
necessária do segundo. É preciso oferecer à juventude opções menos
materialistas que lhe permitam “vencer na vida” sob risco de que, do contrário,
dê-se um jeito de enriquecer se não for pelas vias formais e legais. A família
desenha o ponto de partida do trajeto educativo. A cultura do dinheiro tem-se
arrastado ao longo dos séculos com o ideal de acumulação, expansão e reprodução
capitalistas através do mercantilismo dos metais preciosos, a revolução
industrial, os movimentos financeiros globais. O componente material (a cédula
e a moeda) são indissociáveis do imaterial (como obter dinheiro? O que fazer com
ele? É suficiente o que ganho? De quanto preciso? Quanto há que trabalhar? Quanto
é necessário para ter uma vida digna?).
A sociedade, por fim, precisa reformular seus valores a fim de
que as pessoas se orientem mais pela confraternização, a saúde física e mental,
a contemplação das belezas naturais, o cultivo da educação, e o prazer pelo
conhecimento e a troca de experiências. O dinheiro voltará, assim, a ser mero
objeto de trocas em vez de malfeitor do imaginário.
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